27.5.09

uma é quase bonita, a outra é quase feia...

Me disse sobre a hipocrisia,
os caminhos da vida,
a filosofia do ser.
Disse que eu voltaria atrás,
me converteria ao simples
porque era de lá que eu vinha,
que nada ia ser diferente.

É, de onde eu vim, me ensinaram assim.
Disseram: -vai!
Mas eu estava envolta em grades.
Não procurei por portas, apenas consenti.
Nunca me perdi, não me permiti, fiquei bem ali.

E você me ofereceu asas...

Sabe, costumava fechar os olhos
e sobrevoar lá fora...
Mas no final, pouso seguro,
de volta à casa.

E você me ofereceu asas...

Queria mesmo é que me tomasses conta
por onde quer que eu passasse
com olhos de desejo,
que me abrasasses a alma
sem alcançar o corpo.

Agora,
agora fico olhando aqui de cima
e me parece tão alto!

Eu não sei fingir, eu só sei sentir.

Tudo é tão intenso aqui,
ou deveria ser!
O efémero não me é afim,
na verdade ele mal começa
e é tão pouco pra mim,
que determina seu fim.

Encenar, ah sim!
Aí é diferente, o sei bem!
Também estamos falando de intensidade,
de vestir as dores, os risos, as fúrias do mundo.
Subo neste palco e não me tire daqui
enquanto o ato não acabar.
quero que pagues pra ver,
mas pode ficar com o troco
o faço por prazer!

No final, a vida é uma troca
e não há jogo sem interesse.
Mas quando eu despir a fantasia
ainda quero as asas,
o Arlequim, deixo pra você.

E quando a última máscara cair,
não me tenhas pena,
quero que me olhes os olhos molhados,
e veja a mim, desse jeito,
envolta em panos claros, pura,
sem as vestes da arte.
Pois é assim que sou.
sem género, eles não me agradam.

Eu não sei fingir, mas só sei sentir,
se me encanta o toque da alma!

25.5.09

Posso entrar?

Os dias andam tão iguais,
quero cores, enfeitar os cabelos com flores,
um vestido branco e pés no rio
inventar uma direção
mudar os móveis de lugar,
ou bater na sua porta. Posso entrar?

Falta o descompasso do coração,
a molemolência na cadência,
uma paixão e junto a minha, a sua respiração.

Vou mudar seu rumo, os planos,
bagunçar a ordem
te surpreender, eu sei como fazer...
Te olhar nos olhos e te ver depois da trama.

Seus personagens? Quero todos.
E na ânsia de se perder,
quero vê-lo reinventá-los, reescrevê-los, quero!
Te deixar solto, para viver a diferença de cada conto
e fazer a diferença dos meus dias.

22.5.09

Hoje? Me deixe aqui!

Às vezes eu quero o mundo pra mim
e logo depois quero só fazer parte dele.
Ontem eu tinha sede, tinha fome, ânsia, hoje tenho sono.
Quis deixar meu gene para o mundo com você, sem você, fiz.
Depois, quis deixar você porque você nunca esteve lá!
Após muitas paradas, resolvi, desci naquele ponto,
te vi. Você estava lá? Sim, acenava com um lenço branco
e eu não estava mais em paz.
Às vezes sinto frio e quero aconchego
e logo depois que me cubro, rubro de calor.
Ontem sonhei com o futuro. Ah, sim sonhei!!
E acordei perdida no presente,
outrem estava lá, e você não estava em mim, eu estava lá!
Mas hoje, estou com ira, tão só, com dor, com dó.
Estou transbordando de piedade e de raiva de mim.
Estou fraca, não sou fraca, mas hoje não quero ser forte...
Quero dormir e acordar em outra hora, outro dia,
aquele em que eu parti pra nunca mais voltar.
Eu só queria a simplicidade, queria sim, o mais simples de mim,
ser o que sempre quis, eu sabia chegar por aquele caminho
e agora estou perdida aqui, tá tão escuro!
Sei, o Edu disse que os poetas como os cegos podem ver na escuridão,
mas agora tá só escuro
e eu não quero acender a luz.
Você não vai voltar, não se volta de onde não se vai
desistir é por minha conta eu construi o caminho,
mas qual é mesmo o caminho?
Às vezes quero fazer a diferença,
fazer com as mãos, me propagar aos quatro cantos
e depois quero só acreditar em Deus, ter uma boa família
e na hora da morte, leveza na alma.
Ontem eu queimava, era pura combustão,
intensidade, transformação
mas hoje?
Eu não sei bem...