28.4.10

Amor e Ódio (Carlos Lyra e Aldir Blanc)

Ai, adolescer e transmorrer na fonte!
Ai, não perceber a inevitável ponte...
Ai, não ver o dia feito uma doença.
Ai, não precisar de ilusões ou crença.

No fim da noite, um muralhar de rio...
No entardecer, elevação de missa...
Só ver da onça o ouro fugidio
E não sentir o cheiro de carniça.

O que foi vivido está comigo
vivo e sem olvido

O que está vivido está comigo
e me rejuvenesce

O que foi vivido
faz de nós agora o que nós somos...

...Enquanto que a sombra
do que nós seremos se aproxima e cresce

O que foi vivido
fantasia a morte e o riso apodrecido

O que foi vivido
faz de nós dois jovens de amor perdido

Ai, como era bom quando a indescência
Era carnaval
E a mentira transformava em aventura
o que era funeral
Dê-me o braço da lúxuria,
Antes que se apague a nossa contra-dança

Antes que se apague a nossa contra-dança

Ai, canções de amor e ódio
São adagas cravejadas
São adagas cravejadas de vingança

Game Over

Nunca mais me vi em ti, não me quis sem mim.
Não me vi sem ti, mas não te vi mais...
Como eu dissesse a mim, não te quero mais,
mas como eu queria, há poucos minutos atrás.
Ah, como somos estranhos a nós mesmos, não é?
Há um tempo eu me conhecia e hoje
eu te vejo e já não sei bem mais
se é você ou me vejo refletida em ti
se são aguás passadas ou torrenciais por vir
como se eu pudesse te tirar daqui e não pemitir
o que você me faz e ainda o que não faz.
Não te vejo mais, você passou tão rápido
que não lembro se senti ou pressenti
mas não te permiti e não te desculpo pela minha fraqueza
ou pela sua franqueza, qual foi mesmo a ordem?
Não me lembro mais!
Não tenho as perguntas, me destes as respostas
que não fazem mais sentido, desordem.
Não me tocam, não me toques, não nos tocamos mais.
A música passou. E a letra? Não recordo mais.
Em meus ouvidos você, a melodia e a sua língua
que não se traduz, que me faz sentir,
que não posso mais. Não suporto a sua presença,
ou a sua falta, ou a indiferença, ou a minha crença,
nessa ausência de encontros, perdi a alma, pedi por calma,
sofri na palma, e nas suas mãos, me deixei, me perdi.
Não te vejo mais, não acredito nas palavras soltas ao vento,
sem tempo, espaço ou condição, ou contra-mão, ou direção,
ou sem razão, sem emoção, contradição...
Você se vestiu de sombra enquanto eu brilhava
e quando eu me vi já era tarde, estava escuro, fazia frio
e você nunca esteve, não passou. Não existe, não exite!
Fora daqui! Dentro do mundo, fora de mim, fora de si.

Essa moça? Desconsidero!

A ilusão, o sonho da moça?

Desconsidero!
Depois, ela nem era tão moça assim
e ainda gostava de contos. Faz -me rir!
De súbito lhe consenti e de pronto me fizera gelar,
entrará em contato com a minha realidade!
Outro dia ela mudou os móveis de lugar,
acreditava que uma nova ordem se instaurara
mas lhe arranquei as roupas do armário e as espalhei pelo chão
ela então me fizera enraivecer
dançou sobre as roupas e como louca,
se vestiu de fada. Quis voar!
Bruscamente lhe gritei palavras sórdidas e desconexas,
Tomei-lhe o roteiro e o rosto nas mãos:
- Aqui eu brinco de Dono do mundo!
Não engrandeça, não ensandeça! Esse personagem não lhe fora concedido!
Enquanto isso pensava desejosamente:
- docemente arredia "a moça"! Será que me enganava? Será que me amava?
Desconsidero!
Sigo atrás da negação.
O amor é banal, cartas de amor são ridículas,
esses sentimentos me tiram as rédeas! Longe de mim!
E ela com esses modos de moça tosca...
bela, linda, clara...e tola!
Sem saber do perigo que rondava, brindava em taças de bolhas de sabão,
silenciava o torpor e me assistia ser, me permitia...ela queria estar ali!
Mas não me pediu pra ficar.
Tirou-me pra dançar, encostou a sua pele na minha, se achegou ao meu peito
e ronronou longamente em delírio manso.
Desconsidero!
Não me venha com flores e desvelos
são mazelas do seu enrede
ela sempre faz isso em meio ao caos anunciado, fingida!
Olha-me nos olhos e dissimula paixão
e quando não tem o que quer esperneia como menina mimada
Eu? Desconsidero!
Fico a observar de longe, não caio nessa!
Ela não volta, pisei em todas as cores de flores e todo o resto,
Fechei as portas, mas ando sem sossego, porque sei que ela está lá
disposta a me ter
e pronta pra não ser de ninguém.

Cavalheiro de fogo

Despindo-me às margens de um rio,
vestindo-me em véus de estrelas
nunca mais a espera tua,
meu cavalheiro de fogo!
Sentindo-me minha e nua, cada vez mais, minha.
Uma nova transparência
e uma vez dito ao vento,
o que é do vento que o vento leve.
Leve, pra sempre,
e eu para sempre clara e tua.

Qual o cerne?

Foi assim...
...entendi na prática.
Mas entendi!

Entendi que o cerne da questão,
é a minha capacidade de me amar.
De permitir que me amem.
A possibilidade de me reconhecer na reclusão
de saber quais espaços adentrar ou recuar.
Não percamos a razão, optemos pela criação!
Esse será o por enquanto, onde enlouqueceremos juntos.
Mas aonde pintar a loucura plena e pura,
distância pra manter a sanidade.

Novo de novo

Acreditas!
Porque eu posso acreditar.
Se te disse a que vim e o que quero,
se olhastes pra mim e eu translúcida,
então acho que veio e podes ficar.
Vai ficando e quem sabe, realidade?
Se me tocas, se me escutas,
se te importas, fica.
Quero, novo, quero de novo, quero permitir,
intenção, verdade, sorriso nos olhos,
Fica!

O erro mais bonito

Quando a vida me trouxe aqui
estava tão certa que seríamos o erro mais bonito
O acaso assim se cumpriu,
veio costurando nossos desencontros,
os descasos, as razões ilógicas.
Me fazendo e desfazendo, abrindo fendas e lacunas.
Descobrindo a paz, despindo o equilíbrio.
Andar na corda bamba...
Fui acreditando em mim, era só o que eu tinha nas mãos
na verdade era momento de dissociar
e nenhuma aproximação seria fato.
Na troca eu soube me resguardar
porque o sofrimento só vale pelo aprendizado.
Mas hoje sei que não vou voltar,
porque o presente já não é
e o futuro não me pertence.
Quem sabe tudo isso passe?
Quem sabe uma outra esquina,
num outro momento?
Assumi forma e sei por onde não devo seguir.
Continuo com uma louca certeza em mim,
mas essa força não tem alvo.
Como eu não vim ao mundo a passeio
aguardo que os ventos mudem os rumos.

20.4.10

Pactual

Quando essa chuva cai na terra
e se faz cheiro de capim molhado
depois sol manso na pele clara
e a brisa no rosto

Um sinal...
Sinal de vida sendo tranformada.
energia sendo gerada.
Assim me sinto

Pode dizer quem tem boca,
pode vir quem vier,
eu não abro a porta se não quiser
e vou peneirando pra deixar a luz entrar aos poucos
sem que possa ofuscar
tudo assim bem simples e muito complexo.

Um pacto, um elo em mim,
lá dentro,
que me faz gostar do que sou
Um passo atrás e consigo enxergar mais longe
Sou rio correndo...cada dia outro
Consigo me perceber aqui
e reconheço os laços dos sapatos
que fiz e desfaço e refaço.
Vejo meus passos
é o que levo da vida
é o que faço com meus próprios braços.

Esse espelho denúncia
sou o reflexo do encontro,
e ninguém me tira isso,
meu reflexo, minhas verdades.

Não quero as razões e sim as proposições,
as impossibilidades, as descobertas,
as desistências, os recomeços, a continuidade
as probabilidades, quero a intensidade
não me diga o que fazer,
mas se puder me convencer, tente...
estou sempre aberta a negociações,
as mais arriscadas, as mais tentadoras.