29.12.09

Na nossa sintonia

Aonde nasce o encontro
aonde passo a hora a pulsar
desliga a TV e vem ver o mar
vem entra na nossa sintonia e
escuta essa batida na beira da praia
e a gente fica, olhando o céu e vai ficando
e a gente gosta de ficar, só pra estar
e debaixo desse céu, de frente pra Iemanjá
vai deixando acontecer, bem de cima da pra ver
como isso tudo é imensidão
e não termina é um azul sem fim,
que não acaba e nem cabe
e só cheiro de mar, concha no ouvido
pés na areia pra trocar
e deitar você ao sol,
me enfeitas, pra te amar,
flores pros cabelos,
um vestido de linho, lindo e cru,
como ao mundo quando se chega,
pra poder tirar, pra poder tocar
pra poder te ouvir
ser no pé do ouvido
e não poder fingir
tudo devagar, tudo só sentir
e a gente fica, olhando o céu e vai ficando
e a gente gosta de ficar, só pra estar.

28.12.09

Com propriedade da apropriação...peço a licença da sua palavra

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.

Ferreira Gullar

21.12.09

É só relativo

Então...
deixa ser, deixa estar,
deixa a loucura se instalar...pára de ser a meia intensidade.
Combinado não sai caro
só te quero num humor compatível.
E aí quem sabe? Deixar na sua conta!
Quando estiver carente demais,
procuro outros vôos.
Se esta me protegendo, o faça,
não quero o seu amargor.
Já mudamos de idéia tantas e vezes
e mudaremos tantas outras.
...E daí!
Se ficar de um tamanho desproporcional, grita,
grito também.
Não saia da área de cobertura!
Acho que a nossa loucura alimenta uma à outra
não estou tão certa se isso é bom.

Mas o bem e o mal, o bom e o ruim...
tudo é só relativo.

13.12.09

Erigir

E se tudo se der no desenrolar do espiral,
novos ares, outra hora, uma nova instalação.
E se me pego pelo sentido dentro,
acredito em outros questionamentos,
no agora, em uma nova disposição.
Arquitetar só presente, porque o futuro é projeção.
Isolamento, despojamento, propósito, não solidão.
Desejar em mim, só o que faz relação,
o que agrega, arremete, o que concerni,
o que restar...vida noves fora zero.
É o que quero e ninguém me deve,
Sou eu à procura,
e nela quase me perco,
mas o regate, foi por um fio
por um triz, que desobriga-se.
E faço bem em saber partir, pra poder voltar,
a partir daqui é só ladeira e só se sobe de primeira
o desperdício e meio de caminho
e a vida tá me gritando o indispensável.
Há urgência em ser, em prover
Porque a colheita chega já.

10.12.09

Sem querer

No dia em que eu te vi
a lua tirou o sol pra dançar
o dia em que eu sorri o seu sorriso
e bailei nos seus espaços
estava ali por você, sem saber
sem querer, eu te quis

1.12.09

À porta.

Desejo os jeitos, os defeitos e os trejeitos,
a pele, o toque, a cuca, os beijos.

Não é simples seguir sua rota,
você fecha os olhos e as portas.
Então, não adianta eu querer ficar.
Esbarro em ausências, indisponibilidade,
a sua...que gera a minha,
o que me deixa em estado de xeque-mate.
A dose foi over,
sei que preciso ser leve, por mim.

Não há encontro, não cruzo mais o seu olhar,
você está sempre seguindo em direção diametralmente oposta
pra não esbarrar nos mesmos fins.
Não há disposição, não há mais investigação.
Só sei ser por gotas de sedução!

Pra me relacionar comigo mesma, reclusão.
E daí não sofro, apenas muto.

Também quero borboletas no estômago,
mas o que está em jogo
é se você vai me deixar entrar,
bato tantas vezes à porta...
Se faço sinais sem resposta todo o tempo
me volto para dentro e espero
outro instante chegar.