17.5.12

Antes do não

Agora se fez um silêncio inerte, aonde corpos dormem enquanto almas vão passear.
Mas em mim, há um burburinho de mesa de bar,
muitas vozes, ao mesmo tempo, descompassadas, descompensadas
que não se entendem ou não se importam, mas falam assim mesmo, sem parar.
Há um desalinho e pouca calma em um momento de aviso sísmico,
e em mim tudo é esbarramento, desordem, apressamento.

E nesse misto de sensações, tenho a percepção de como nos perdemos sem saber,
do que queremos sem de fato querer.
E por fim, o que deixamos pra trás sem perceber que a estação mudou. 
Nessa correnteza abrupta, que nos retira da inércia à força,
passamos pela vida, sem a vivenciarmos. Apenas passamos.
E como diria o coelho da Alice:
"Não posso parar, estou atrasado, muito atrasado!"

Enquanto tentávamos alcançar a estante de cima na ponta dos pés
e nos equilibrávarmos nos enormes sapatos de nossos pais e espelhos,
se ia a ingenuidade da infância, assim sem querer.
E depois, se ia o aventurar da adolescência,
enquanto esquecíamos de traduzir o fugir em emoção e o impossível em ação.
Enquanto tentávamos em vão, não sermos tolos românticos, ou caretas nostálgicos.

Dias passados, notamos que as cores se foram, e que estamos sem brilho, sem luz...
E no espelho, agora encontramos senhores capitalistas e donos do imenso vazio que instauramos.
Estamos à beira de nós mesmos,
tentando fugir do nada, pra lugar nenhum,
num mundo de burocracia onde o coração perdeu a prioridade.
Onde deitar no campo e olhar o sol se pôr  já não se chama viver.
Então percebemos que deveríamos ter sentido, chorado, amado, vivido bem mais.

Hoje digo não a esse turbilhão,
que calem-se as línguas cansadas,
é hora de ouvir esse velho coração.
Antes que seja ele a dizer não.

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