7.4.11

O espelho

Pai eu te amo, mas,
tudo que me esvazio hoje te dizendo aqui,
tudo que me deixou como herança familiar, não, nada disso me pertence.
As dores, os pesos, as culpas ditas por ti, o controle exercido,
a austeridade máxima, a autoridade impiedosa, não te permito mais!
Pai, eu te amo, mas,
você não acreditou em mim quando precisei de incentivo, ainda não acredita
e eu que quase caí no seu jogo de baixa estima, quase me dei por vencida.
Quase me afogo nas suas tormentas. Uma agonia! Só me debater e afundar, esgotar energias, exaurir as forças, uma avalanche na alma.
Pai, eu te amo, mas,
agora abandono sua voz que me ditava, não te permito! Se queres a mão te dou, mas não a calma, não vendo a alma. Se queres reconhecimentos e agradecimentos, também posso dispendê-los sem muitos esforços, pelo seu caráter e bons exemplos, pelos seus esforços para nos financiar e pela educação ímpar.
Pai, eu te amo, mas,
não por sua idade avançada, ou por pena ou por seres "pai", sempre admirei suas conquistas, sua forma intensa de viver a vida, a felicidade para tocar em frente. Admiro a sua experiência de vida adquirida. Mas essas vestes pai, não servem em mim!  Eu quero escutá-las, reconhecê-las e reconduzí-las.
Pai, eu te amo, mas,
não quero silenciar a contra-gosto, suas faltas, e o desassossego por conta das palavras ríspidas e desrespeitosas que diriges a cada um de nós quando perdes o equilíbrio. Não vou mais ouvir e aceitar.
Pai, eu te amo, mas,
já sou adulta e o que dizes, faz mal a mim, agride a alma, a serenidade e me joga na escuridão. Não é porque por vezes busco o auxílio, um exílio para as dores e dificuldades da vida, que permito a invasão do privado. Quero ter em você o amigo, o alívio e o descanso. E em troca poder oferecer o  o carinho e a gratidão.
Pai, eu te amo, mas,
precisas saber que não são suas palavras duras, escarnecendo de minhas escolhas e conquistas, dos meus méritos e de minha maternidade, que vão me fazer ter raiva e querer te provar que posso ser melhor do que pensas.
Já sou melhor, melhor do que posso, melhor porque sempre quero mais.
E se hoje pensas mal de mim e dos meus feitos, eu de cá, só posso sentir e ressentir por ter que me ausentar da tua presença de amigo.
Pai, eu te amo, mas,
preciso que saibas aonde vão os meus castelos,
que a sua força não é maior e você, nem é melhor do que eu ou do que ninguém.
Não me ofereças o fracasso. Eu? Repulso!
Porque sou forte, até aonde precisaria de remanso!
Pai, eu te amo, mas,
por tantas vezes clamei seu estímulo, um ombro, me recostar, debruçar em suas palavras.
Sim, sim, elas vieram, sempre, tantas, palavras, tantas!
Sempre imperativas, descalçando, descabendo.
E eu achei que nunca ia conseguir calar aquela voz dentro de mim.
Esperei, esperei, esperei demais... e esse tempo que não me espera.
Não me tome por baixo, não me pise, não me coloques abaixo de...
...porque daqui posso ver suas fraquezas.
Agora me descubro e calo-te!
Pai eu te amo, mas,
hoje tomo as rédeas da minha vida, porque assim eu posso seguir feliz e em paz!
Vou aonde quiser, aonde alcançar, sem me culpar por não ter conseguido chegar,
sem me achar fracassada, ou menor.
Agora tenho prazer na vida como ela pode ser, por fazer sentido pra mim e pra mais ninguém. E das culpas que tenho, as minhas já me bastam.
Pai, eu te amo, mas,
Apesar de termos afinidades eu não sou igual a você, eu não sou igual a ninguém e a minha vida é só minha, ninguém vai vivê-la pra mim, ninguém vai gozá-la por mim.
Então, que eu desfrute do que me é palpável, do que me é por gosto, do tempo que tenho em vida.
Pai, eu te amo, mas,
antes que pudesses me fazer e descrer de mim
eu descobri que tenho forças para não permitir
e principalmente pude te olhar para não repetir o seu reflexo.
Pai, eu te amo e te aceito!
E dessa forma, voltas a figurar como deves,
imagem no espelho, semelhança do eterno amor.
Porque assim de longe posso te iconizar
e te desumanizar e te deixar no altar, de onde os pais nunca deveriam ter descido.
Pai, eu te amo, mas
me aceites também do jeito que eu sou.
E se me queres melhor me fale com jeito.
Estamos todos a caminho da evolução e do crescimento pessoal
e a sua mania de perder as pessoas pelo caminho, só por não pensarem como você
ou só por não acatarem as suas visões.
Pai, eu te amo, mas,
você precisa saber domar o seu ego,
todos viemos ao mundo unicamente para aprender, e o não querer, é a mortificação da alma
toda as suas escolhas e abandonos só vão te levar a um caminho solitário, duro e frio.
Pai, eu te amo e,
temos tão pouco tempo para sermos felizes, para estarmos todos unidos e fortes
na alegria e na tristeza, que não poderia deixar de te escrever tudo o que sinto.
Chega de distâncias, de birras, ainda não aprendeu que não é bom estar longe de quem lhe quer bem?
A vida é uma só! Nunca é tarde para se rever conceitos equivocados.
Tenha uma vida mais feliz junto aos seus!

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